Uma quarta forma de amar

Existe uma quarta forma de amar. E é através dela que conseguimos nos sentir um ao outro. Silenciosa, mas que faz de nós, algo encontrável.

Essa quarta forma de amar não nasceu da agregação de conceitos diversos. Todos eles passaram a ser percebidos apenas, após a chegada do outro que se supunha. Ela simplesmente surgiu. Genuína! Como que por encantamento.

Não, essa forma de amar não pode sofrer nenhuma inconstância, ela simplesmente é, ela simplesmente existe! Ela mostra-se sublimada a qualquer tentativa de controle, ela possui vida própria, emerge e reverbera , controla e sucumbe a si mesma num envolvimento quase orgasmático entre as suas ramificações emocionais.

Mostra-nos a renúncia que podemos fazer de nós mesmos, enquanto seres sujeitos às emoções rumo ao silêncio que desenterra o melhor e o pior de nossas vidas.

Meu Deus! Ela é enorme para se compreender em “muito tempo”, você precisa ficar com ela comendo-a, dormindo-a e deixando-a entrar, mesmo estando completamente acima de nossas posses. E às vezes fingimos que não a temos, só para depois ficarmos perplexos de que a possuímos, e esse susto nos remete ao melhor do primeiro encontro. Diferente, única e transgressora, se autocria e se autodevora, como “um sol que ilumina enquanto queima a si mesmo”.

Sendo mesmo capaz de fazer o ser humano experimentar ao olhar para o outro, um amor não intencionado a valores rasos, transbordante de pureza, mas que apenas pela proximidade do ser amado, desencadeia sem nenhum limite ou pudor a consciência da possibilidade de saciação dos desejos mais ardentes, mais carnais possíveis; e que por estar absorta em sensações que apenas exalam a busca pelo ser amado, transcende em busca do Divino. E diante de tantas propriedades, ela estabelece o labirinto em que supomos as nossas formas, já que nem formas mais temos. Já que nos despimos de nós mesmos e de mãos dadas comungamos com a força que nos manifesta.

Ela se acha no encontro dos olhos que revelam o que verdadeiramente acontece no coração, no toque que busca o reconhecimento do prazer vestido da forma mais humana possível, nos movimentos eróticos mais permanentes, na aceitação das imperfeições do outro. E torna-se o mais divinamente possível por passear pela imanência e fazer-se o mais igual que se supõe, ao ser amado.

É dor, é também prazer. É dúvida, mas realização. É a alegria do sorriso do menino que empina a sua pipa, descalço com os cabelos negros ao vento. É o som da fidelidade à língua materna, passos largos em passeios rachados pelas dúvidas na infância, sorrisos abertos sem nem saber por quê... É o bingo que faltam as pedras...

E nos perdemos através dela porque nem sabemos mais quem somos, afinal, nem sabemos mais onde um termina e o outro começa.

Sou eu e você. Somos nós. E é assim que nos vejo amantes, sorrindo e partindo em direção ao vento, carregando nos vazios a sombra das realizações emocionais.

E edificamos com o nosso querer mais imprudente possível o monumento ao amor de todos os tempos. E é assim essa quarta forma de amar, simples como fogo, eterna como podemos ser...

Marla Oliveira.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

ABSOLUTO



Invadido por tempestades, ele caminha rumo aos pequenos tesouros que pulsavam em sua memória borbulhante. E como houve lutas de ódio para que a lucidez não chegasse silenciosa e exaurisse as palavras de contentamento que repetia todos os dias, alimentando a fogueira de saudades vivas, essa coisa tão simples, mas obediente a uma extensão de desordem. E era tudo, uma invasão de mundos com uma leve poeira de dor que se mantinha de pé, mesmo que não coincidisse com a vontade absoluta. Rendia-se sempre, com os olhos diferentes e excluídos doando absolutamente a armadura dos apaixonados.

Ele a amara! E nunca ninguém amou tanto sem a medida do possível que chegara ao delírio perfumado do desejo de não juntar os cacos do seu espelho partido em mil pedaços, porque tudo o refletia próprio partido em pedaços. Não haveria definição para o que sentia, quando sentado à beira de seus abismos que respiram a atmosfera de suas pernas, ele percebeu que sorria. E aquele sorriso era a abertura do horizonte para a chegada de seus anseios de gato que se esconde. Entendera que em meio à sua vocação para a solidão mais que tardia, mais que palpável, havia um original fervor, com uma dose certa de cólera, para a tendência a amá-la apenas. Apenas ela, criatura ser e não ser, mas que existe inteira e essencial, em nenhum outro lugar senão em sua capacidade de desejar. Esconde-se solitário, porque sabe do perigo das aproximações, então, disciplinadamente, como se tivesse um relógio atado ao coração, ele desperta as suas doses diárias de paixão e agonia. Não para enlouquecer, mas por cálculo de vida. E como castigo ou premio, ele carrega, num fingir de vida, dobrando-se em pesar ou contentamento, às decisões do cair da tarde, abrindo todos os portões que trazem vida e superfície refletida de seu corpo delgado que a retém, criatura nua, sem gritos no escuro e os lábios dela...

Marla de Andrade.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

ANSEIO



E nesse incansável abrir de portas, ela viu com o olho de quem nem tudo sabe, a perda cotidiana de sua procura e o esvair da tarde. Era uma forma de amar, aquilo que nem mesmo sabia, mas desejava com o auxílio alongado do agora, os dias coagulados em esperas. A sua boca se alargava de protestos pela brandura de ser aquela coisa que não se encaixa na transitoriedade. O seu silêncio, ensurdece as suas vontades que não raro, buscam o sigilo de si mesma. O que seria então aquela explosão de instantes que lhe apresentavam todas as idades? 
Distraída, se olhava de fora pra dentro numa tentativa de recuperar o seu contato com o prazer de sua inspiração. Não queria entender, mas enxergar que era doce a luz turva de sua existência. Já era muito ser impaciente com os seus recursos. Ela queria ir consigo mesma, até o mais fundo dos abismos que ressoam as gargalhadas das noites que une as terras mais distantes...

Marla de Andrade.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

NOITE


E ao dizer sim, quando entrei nessa bolha de sabão, extasiada em minha lucidez que fascinava a vida enfim, foi que o meu corpo se envolveu em seus caprichos de uma vida de estradas largas e fiéis à crueldade de acreditar em desejos que me chamavam de tudo. E eu não sei se o céu pode esperar o meu grito que aguarda apenas o escuro do fim, mas ouço a voz do que me iguala a você sob a medida da fome daquela que é filha da lua, da rua.
Eu quero agora que você venha morar comigo, levando a sério o rio que tem dentro do mar para que a aflição de ser só eu, deixe-me calada um momento eterno apenas, e lembrei que um dia em mim, eu me maravilhei de tudo e o que sobrou dessa visão cega do sentir foi pouco; foi muito pouco. Amei e sempre tive a sensação de não ter vivido o amor. Odiei e dele fiz o meu propósito de dor. E você sempre quieto à sombra das finitudes mórbidas de seu olhar.
 A vida traz essa vontade esquecida de sair das casas rumo ás ruas de nossos sabores e de dentro dessa minha alma triste, no sentido de perplexa, vago pelas chuvas que chegam a ranger, a dar pulos mais altos que o meu entendimento de bicho q anda sem pernas. Longe de todas as lógicas, avessa a todas as vontades, cantando a dor do entendimento, eu fui... E de dentro eu pude ver com a tranquilidade de quem não percebe, a sentida vida que me fez vaga-lume...

Marla Andrade.

sábado, 12 de outubro de 2013

VONTADES





Eu estou cheia de vida, eu sei. Nem precisa me dizer... Eu sei que me alarguei pra poder abraçar a mim mesma nessa nudez de estradas abertas. Essa nudez que implora consagrando e reverberando em flores vermelhas de água e luz.
Eu estou cheia de estrelas, eu sei. E sei ainda, que a poeira cósmica desse manequim mutilado no deserto de minhas intenções, traz a luz mais viva e doída que o momento apresenta quando não podemos mais conter. Eu fiquei grávida de tudo e quando chorei porque o sol sorriu mais pra mim e você me apresentou essa forma de amar que umedece os meus passos e escraviza o meu sossego, o meu coração de gente pequena, se abriu com a ventania de ontem.
As suas pérolas me banharam de lembranças brancas de fumaça e nuvem quando enxerguei o teu machado que parte de vida os meus dias calados. E eu nem sabia desse rastejo astuto de tua vontade ardendo de veneno no teu brilho escorregadio das vontades absolutas. E eu nem sabia dessa boca enorme de tudo o que provoca, mas sonhei que esse gracejo que sorri das cores, perpassa o meu sonho tranquilo de fogo e água. E nesse abrir e fechar de portas que rangem os sons das surpresas, eu me retorno vagalume a beijar a tua fogueira.
Desses restos de mim que nem sei, foram feitas  cinzas que te enchem de agonia e reafirma com todas as carícias aliadas ao vento, a tua sede de mim que me fez borboleta.


Marla Andrade.

quarta-feira, 1 de maio de 2013





Escrevo para me salvar dessa maldição de escrever... Escrevo para os meus netos.


Marla Oliveira.

ASA DE BORBOLETA



Vindo de longe e usando os passos tão leves quanto à brasa acariciando o vento, ele entrou com portas de nuvens e mistérios. Os seus olhos se abrem como asa de borboleta e move os meus passos por esse intuitivo labirinto de minha espécie. Se sua boca se abre em fogo soprando de si mesmo, como quem tudo adivinha, a dança mística da vontade perpassa docemente o querer, encharcado de risos. Ele é vendaval e deixa a vida, sempre faminta de sonhos, líquida, estilhaçando a sua própria medida. E ele é mais, é um sentir prolongado que não cabe mais no tempo por ser tudo e agora.
Deixa que eu te conte o que pude ver com o teu olho, impermeável de desvios; é que tudo é gigante quando o sol vai marcando as sombras, e os olores permanecerão mesmo que ninguém saiba os seus nomes e mesmo aquilo que os ouvidos não ouvirem, serão fragmentos cósmicos que acordam a eternidade...
O sangue eterno que amargamente inventei, desmancha todos os mares e apenas ele, sente o frio de meu sonho profundo dentro do vazio que desaparece. Ele estava lá, reinventando o céu quando eu, precipitado mundo, sabia não ser o dia inteiro.
Então caminhou... Sudário de si, um instante apenas, antes desse brilho fiel à amada semente, beijar o cálice amargo da poesia.


Marla Oliveira.

BESOURO DO AMANHECER





Para:André Luís.

Vem menino, depressa! Com essas tuas pernas de vento e ventania, falando das felicidades incertas quando se depara com as janelas da minha alma de lince. Eu deixo que você percorra esses caminhos, onde me ensinas a olhar a maldição que me salva do risco de aprender a viver qualquer coisa. Você, menino que conversa arco-íris, me aprisionou em mim mesma, quando bebi o horizonte, ao alargar o sol com o seu sorriso de areia nas águas.
Não pude mais sair desse encantamento de olhá-lo, por pura vontade de ser hoje, fazendo-me limite do tempo. Mas, para que tu me adivinhes, me apago e visto a roupa da tua própria voz. Voz de lobo em frente ao mar. 
Aceitar aquele teu primeiro olhar, é ser feliz o dia inteiro, menino das águas cobertas por folhas verdes, menino do tempo que desagrada à lua quando anuncia a sua partida. Nem posso mais andar por cima das pedras, porque viestes com toda essa ousadia de príncipe da tarde, pra dentro de mim e isso é o mais sublime contato com o sonho.
Anda menino! Vem mesmo calado em busca das coisas que nunca estão; é doce este teu silêncio de borboleta branca cumprindo o seu destino de coisa que não existe, mas são felicidades certas. Abraça esse sol que sorriu, quando viu as tuas pernas ligeiras de pássaro azul, atravessando o caminho refletido pelo espelho do querer. Deixa a tua força que desorienta as pedras que ainda não sabem do vento, abrace o dia e dance nessa fogueira mística e desvairada que reclama o medo de ser eterna.
Vem besouro do amanhecer, e com as tuas duras e incertas caminhadas, atravessa as montanhas da noite quente, até alcançar os ares de todos os tempos. Até deitar-se em meu colo... 


Marla Oliveira.

terça-feira, 9 de abril de 2013


"Nós, que somos homens do conhecimento, não conhecemos a nós próprios; somos de nós mesmos desconhecidos e não sem ter motivo. Nunca nós nos procuramos: como poderia, então que nos encontrássemos algum dia? Com razão alguém disse: "onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração". Nosso tesouro está onde se assentam as colméias do nosso conhecimento. Estamos sempre no caminho para elas como animais alados de nascimento e recolhedores do mel do espírito, nos preocupamos de coração propriamente de uma só coisa - de "levar para casa" algo. No que se refere, por demais, a vida, as denominadas "vivências" - quem de nós tem sequer suficiente seriedade para elas? Ou o suficiente tempo? Jamais temos prestado bem atenção "ao assunto": ocorre precisamente que não temos ali nosso coração - e nem sequer nosso ouvido! Antes bem, assim como um homem divinamente distraído e absorto a quem o sino acaba de estrondear fortemente os ouvidos com suas dozes batidas de meio-dia, e de súbito acorda e se pergunta "o que é que em realidade soou?", assim também nós abrimos às vezes, os ouvidos depois de ocorridas as coisas e perguntamos, surpreendidos e perplexos de tudo, "o que é que em realidade vivemos?, e também " quem somos nós realmente? e nos pomos a contar com atraso, como temos dito, as doze vibrantes campainhas de nossa vivência, de nossa vida, de nosso ser - ah! e nos equivocamos na conta... Necessariamente permanecemos estranhos a nós mesmos, não nos entendemos, temos que nos confundir com outros, e, em nós servirá sempre a frase que disse "cada um é para si mesmo o mais distante" continuamos a nos considerar "homens do conhecimento". 



                                                                         (NIETZSCHE) 

sexta-feira, 5 de abril de 2013








" Carrega de ouro as asas do pássaro e ele nunca mais voará pelo céu."
                                                        
                                                         ( Rabindranath Tagore)



terça-feira, 2 de abril de 2013

" A vitória do espírito, origina-se da compreensão de que a vida não é um corpo, da mesma forma que a água não é o copo que a contém."
                                                              (Provérbio Hindú)



 http://www.youtube.com/watch?v=bbgHZWwyhcQ

OLHOS D`ELE




Para: Rui

Os seus olhos me engoliam, através de uma estrutura de pensamento que não raro alterava a minha realidade escandalosa de ser vento. Afinal, o que seria aquele navio atracado, se os mares de sempre revoltos, o esperava com a sua sede de embalos desconcertantes, mas sem a necessidade de assistir a agonia da esperança? Era a adversidade indispensável da felicidade, com o seu hálito de ontem, ungida pela dor que a tudo assiste e potencializa os esconderijos dos pontos de partida. Os seus olhos apenas me enxergavam, quando chovia e seria uma loucura sórdida mensurar essa partida inconsciente de dizer para o nada, que o absoluto que fere a alma já ultrapassou um cálice de vinho. 
Esse instante, entre o olho e a coisa propriamente colidida, não reverbera espaço com essa assombrosa pontualidade de fuga do tempo, ele traz um horror elemental da coisa representada pelo estranho corpo das almas. É a compreensão que impede a linearidade de ver o que ele me olha, dizendo aquilo que quer dizer, me esmagando lentamente, até a dor de não morrer. Danço nessa incessante luz de seu olhar miserável de mim mesma, mendigo de minha alma que certamente, conversa tão silenciosamente que não chega aos ouvidos do acaso.
Todo esse olhar vai continuar brilhando apenas por um instante, ate eu me lançar à minha forma rítmica da ordem intacta de seus braços.


Marla Oliveira.

sábado, 2 de março de 2013

SINTO ASSIM...




 “ Esse texto foi criado, sim, criado, porque é a construção da significância de um homem, através dos olhos de um menino... Então, ele é para Profº Luiz Alberto. ”

 

Seria ele o ser da exceção onde não se encontra a linearidade de pensamento, mas a luz nua esclarecedora, de seus olhos mais que estrelas. Ele trazia a palavra que era única, mas que formava o todo, num gesto em que me transformava em corpo antes mesmo de eu nascer, através das impressões de suas marcas. Queria a aproximação, mas temia os esfacelamentos de minha incompletude, sem entender o combate metafísico que causava quando, pensava poder entendê-lo. Ele era tão cheio de tudo que se tornara muito fácil amá-lo e isso era o mais desconcertante aplauso por não ser senhor de mim mesmo. Ele é feito de matéria orgânica, vive mais que tudo e todos com as estruturações impactantes de seus pensamentos vorazes que me exime de medidas. Tudo transborda e se completa, se angustia e se dilata. É a glória do verbo invadindo o poço visceral do menino que jamais sairia ileso da magnitude de seus gestos sonoros, num desafio divertido de mundo que liberta e impulsiona a ser eu mesmo. Eu, caleidoscópio. Eu, dorsos de águas muito profundas o buscava peixe e navio. Essa vontade de sê-lo é mais que anseio de despedida, não tem nome nem se parece a mim... É o meu avesso. É mais que a oquidão do ovo.
E isso sem nome é pungente e é também mais que sorte. Mas sei que quero abraça-lo para guardar, guardar e guardar até nunca mais.

Marla Oliveira.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

" Guardar raiva é como segurar um carvão em brasa com a intenção em atirá-lo em alguém; é você quem se queima."


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

EMMANUEL

 (Pergunta endereçada a Emmanuel, Mentor espiritual de Chico Xavier, por algumas dezenas de pessoas em reunião pública, em Uberaba, Minas Gerais).

 
 

*Sendo Deus a Bondade Infinita, por que permite a morte aflitiva de tantas pessoas enclausuradas e indefesas, como nos casos dos grandes incêndios?

Resposta:
Realmente reconhecemos em Deus o Perfeito Amor aliado à Justiça Perfeita. E o Homem, filho de Deus, crescendo em amor, traz consigo a Justiça imanente, convertendo-se, em razão disso, em qualquer situação, no mais severo julgador de si próprio.
Quando retornamos da Terra para o Mundo Espiritual, conscientizados nas responsabilidades próprias, operamos o levantamento dos nossos débitos passados e rogamos os meios precisos a fim de resgatá-los devidamente.
É assim que, muitas vezes, renascemos no Planeta em grupos compromissados para a redenção múltipla.
***
Invasores ilaqueados pela própria ambição, que esmagávamos coletividades na volúpia do saque, tornamos à Terra com encargos diferentes, mas em regime de encontro marcado para a desencarnação conjunta em acidentes públicos.
Exploradores da comunidade, quando lhe exauríamos as forças em proveito pessoal, pedimos a volta ao corpo denso para facearmos unidos o ápice de epidemias arrasadoras.
Promotores de guerras manejadas para assalto e crueldade pela megalomania do ouro e do poder, em nos fortalecendo para a regeneração, pleiteamos o Plano Físico a fim de sofrermos a morte de partilha, aparentemente imerecida, em acontecimentos de
sangue e lágrimas.
Corsários que ateávamos fogo a embarcações e cidade na conquista de presas fáceis, em nos observando no Além com os problemas da culpa, solicitamos o retorno à Terra para a desencarnação coletiva em dolorosos incêndios, inexplicáveis sem a reencarnação.
***
Criamos a culpa e nós mesmos engenhamos os processos destinados a extinguir-lhe as conseqüências. E a Sabedoria Divina se vale dos nossos esforços e tarefas de resgate e reajuste a fim de induzir-nos a estudos e progressos sempre mais amplos no que diga respeito à nossa própria segurança.
É por este motivo que, de todas as calamidades terrestres, o Homem se retira com mais experiência e mais luz no cérebro e no coração, para defender-se e valorizar a vida.
***
Lamentemos sem desespero, quantos se fizerem vítimas de desastres que nos confrangem a alma. A dor de todos eles é a nossa dor. Os problemas com que se defrontaram são igualmente nossos.
Não nos esqueçamos, porém, de que nunca estamos sem a presença de Misericórdia Divina junto às ocorrências da Divina Justiça, que o sofrimento é invariavelmente reduzido ao mínimo para cada um de nós, que tudo se renova para o bem de todos e que Deus nos concede sempre o melhor.
 
(Transcrito do livro: XAVIER, Francisco C. Autores diversos. Chico Xavier pede licença. S.Bernardo do Campo: Ed. GEEM. Cap. 19).

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

ENTÃO, ELE...



Para: Anselmo.


Ele chega com um sentido secreto das coisas e com o borbulhar de suas lavas mais desorganizadas possíveis.
Ele caminha com passos de várias coisas, alterando tecnicamente a exatidão do que é visível e traçando a linha de respiração e fogo que nos remete ao silêncio de nossas almas.
Ele vem assim, me fazendo enigma de mim mesma, trazendo os gestos condutores da percepção de que sou minha, exatamente minha, interpretando o meu  nada plena de tudo na aceitação das partilhas com o súbito.
Ele recebia em seus braços as minhas fronteiras, ultrapassando qualquer necessidade de entendimento e isso era ele, apenas ele me buscando e sendo eu mesma em minhas percepções de clausuras e voos.
Ele é a grandeza incomensurável da vida com sua película de tolerância, que convergia em palavras vestidas de silêncios em sua fogueira escandalosa, que arde de puro prazer ao sacrifício.
Em sua condição vertiginosa de ser, ele nos impõe um mundo impalpável por trazer verdades grandiosas escondidas através de suas palavras repletas de musica e sorte, crepúsculo e sina. 
Ele diz da felicidade insuportável...
Ele possui olhos que se movimentam como criança que contempla o sol e chora, deslocando o eixo da própria lembrança sob cores molhadas, trazendo a inquietação do sorriso de seu corpo todo como se fosse morrer para sempre.
Ele é o destino dos fatos e a preponderância da sinceridade pela primeira vez experimentada. 
Ele é o amargor da oportunidade, a solidão do entusiasmo, a continuidade do vento, a notícia extraordinária de uma estrela cadente, a embriaguez de estarmos juntos e peixe encantado...
Ele sabe que o escuro de nossas palavras desacertadas, extrapola a poeira e a aspereza do deserto soberbo de nossas infâncias. E esse escuro é o profundo do encontro que toca e exige a liberdade da condição de amar.
Ele é a levíssima alegria de tudo que não exige a dança do entendimento, para realizar a transformação da continuidade.
Ele é a condição suave de mundo que alimenta a própria vida.
Ele é mar, sopro, susto e salto. É Vastidão encantada que regula a fascinação das entregas
Cavalo-marinho que se impõe aos céus...

Marla Oliveira.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

" Perguntaram ao desejo: O que tu és?
Primeiro lava. Depois pó. Depois nada."

Hilda Hilst.

MENINA ROSA

Quem te falou que desse plantio em minhas desordens, as sementes não estariam subjugadas à terra violenta de minhas decisões? Quem te falou, que quando ecoassem os trovões, eu, com imensos pés de gnomos, partiria logo, rumo aquela casa... Sim, aquela mesma casinha, em que os telhados apenas lembravam dentes sorrindo de dores e alacridades?
Quem te disse, menina, que de rosa se faz os momentos doces? Porque de rosa, se faz esse azedume que a boca aberta traz e escorre pelas vidraças da alma. E escorre mais alguma coisa, que ainda lateja e morre de frio, mas de forma tão profunda quanto a percepção de liberdade para o fracasso. 
É magistralmente desconcertante, ocultar a consciência de finitude quando se capta com maestria, a ignorância do processo de desligamento de mundo, por vezes imponderável às ações humanas. Essa pálida vontade de correr sobre as pedras, é fundada nos desvarios que daqui por diante, tu chamarás de vida agônica. A mente, que são as minhas pernas, por vezes, me olha nessa casa de conceitos, meu cárcere escolhido divinamente como uma forma de contemplar a vida.
Alguém, com certeza já deve ter lhe contado, sobre os descalabros e desassossegos de nossa condição faminta de engodos. Alguém, que possui uma natureza descontinua, fantasiou Deus pra você, para que você delirasse morbidamente, em conformidade com o seu presságio.
Você sabe o que é dor, menina? É a senhora dos exemplos inacabados, pode ser a razão do frio, " fogo ateado a distância para o deleite das mãos ", o direito de não amar, cinquenta dias como se fossem cinquenta anos, mas pode ser principalmente o que não te sustenta.
Entenda e vai doer, mas vai doer cor de rosa.


Marla Oliveira.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

SOU

Não me venha falar de razão. Não me cobre lógica, não me peça coerência, eu sou pura emoção.
Tenho razões e motivações próprias, me movimento por paixão. Essa é a minha religião, a minha ciência.
Não meça meus sentimentos, nem tente compará-los a nada. Deles, sei eu, eu e meus fantasmas. Eu e meus medos, eu e minha alma.
Sua incerteza me tem, mas não me mata. Suas dúvidas me açoitam, mas não me deixam cicatrizes.
Não me fale de nuvem, sou sol e lua. não conte as poças, eu sou o mar profundo, intenso, passional.
Não exija prazos e datas, eu sou eternidade e atemporal. Não imponha condições, eu sou absolutamente incondicional.
Não espere explicações, não as tenho. Apenas aconteço, sem hora, local ou ordem. Vivo em cada molécula, sou um todo e às vezes sou nada.
Você não me vê, mas me sente. Estou tanto na sua solidão, quanto no seu sorriso.
Vive-se por mim, morre-se por mim, sobrevive-se sem mim.
Eu sou começo e fim. E todo o meio. Sou seu objetivo, sua razão que a razão igual desconhece.
Tenho milhões de definições: Todas certas, todas imperfeitas, todas lógicas apenas em motivações pessoais, todas corretas, todas erradas.
Sou tudo, sem mim, tudo é nada.
Sou amanhecer, sou fênix, renasço das cinzas. Sei quando tenho que morrer, sei que sempre vou renascer. Mudo o protagonista, mudo a história, mudo o cenário, mas não o roteiro.
Sou música, ecoou, reverbero, sacudo.
Sou fogo, queimo, destruo, incinero.
Sou vento, arrasto, balanço, carrego.
Sou tempo, sem medidas, sem marcações.
Sou furacão, destruo, devasto, arraso.
Sou água, afundo, inundo, invado.
Sou clima proporcional a minha fase. Mas, sou tijolo, construo, recomeço...
Sou cada estação, no seu apogeu e glória.
Sou seu problema e sua solução.
Sou seu veneno e seu antídoto.
Sou sua memória e seu esquecimento.
Eu sou seu reino, seu altar e seu trono. Sua prisão, seu abandono e sua liberdade.
Sua luz, sua escuridão e seu desejo de amar.
Velo seu sono.
Poderia continuar me descrevendo, mas sei que já possui uma idéia de quem sou...
Tenho vários nomes, mas aqui na sua Terra, chamam-me de ...
Amor.


(Autor Desconhecido)




segunda-feira, 16 de abril de 2012

FOREVER

Essa necessidade vital de você, me impele a cantar junto com o desejo de reconstruir sensações potencialmente delicadas e dominadoras. O teu canto de pássaro encantado me submerge ao que há de pior em mim... O reconhecimento de meus abismos, antes companheiros de minha real fuga da idéia de saborear a sua apresentação mais que perfeita, com a minha boca feita de ações e escolhas, me aproxima ainda mais de suas mãos deixando-me livre para a loucura mais que perfeita, de me ver feita de sonhos e gotas vermelhas.
Você sabia que no final eu seria apenas você e que seu canto de silêncio remontava as minhas perspectivas de ouvir alguem lá de dentro, de dentro das minhas considerações, gritar que há muito eu me afastara da prática de "estar sendo - ter sido" para abrir-me numa explosão a muitos passos, para os seus longos braços que emolduravam a minha vida  a partir de então. O que eu deveria ter nas mãos , além das súplicas que me propunham ser alguma coisa?... Eu estava chegando e você devorava o que havia de melhor em mim com a verocidade do fogo em minha garganta, jogando fora os meus vazios. Procuro uma maneira melhor de me pensar com pequenos pedaços de alegria e você me esconde com esse olhar desde o princípio, me criando encantada pra poder te possuir por inteiro. A tua voz em meio a noite, rouba os meus instantes mais que condenados à desordem do querer e eu mesma me acendo nessa fogueira delicada que expurga as tuas ausências. Vem todos os dias e me devolve as minhas palavras, vem todos os dias aquecer ainda mais a mornura do teu molde em minha pele. Vem com a sua alma rios adentro até cansar de ser o vento dourado que me conduz borboleta.

Marla Oliveira.